Vocação Natural para o Desenvolvimento de Qualquer Região

É preciso ter algum cuidado com o entendimento de vocação natural para o desenvolvimento de qualquer região, especialmente quando tratamos das oportunidades e até das exigências da nova economia. Não se trata de negar a existência desse tipo de vocação, mas de sermos críticos quanto a isso.

Ao fazer esse alerta, expresso que Goiás pode e até precisa ser bem mais do que é hoje, inclusive superando o senso comum quanto ao seu excepcional e até insuperável desempenho no agronegócio. Faço essa afirmação porque, mais do que qualquer “determinismo natural”, o nosso estado também é o resultado da atuação histórica e cultural dos seus habitantes, bem como das nossas interações nos âmbitos nacional e internacional.

Nesse sentido, o quadro desenhado até o momento reflete o conjunto das virtudes, interesses, capacidades e limitações da nossa sociedade e, em especial, das nossas lideranças. Seja como for, e sem ufanismo, a “nossa terra” é também o resultado dos nossos acertos e equívocos coletivos.

Para além da vocação natural

O que chamo de “vocação artificial” (ou cultural ou por condicionamento) impõe a consideração de uma sociedade segundo a evolução das suas práticas, anseios, crenças e valores. Tratamos aqui de preferências, escolhas e objetivos coletivos, além de muito trabalho, liderança, superações e de uma governança com resultados estáveis e benéficos.

É meia verdade afirmar que Goiás tem uma vocação natural para o agronegócio. Aliás, a chegada dos colonizadores foi motivada principalmente pela busca de riquezas minerais, não pela agricultura. O desenvolvimento agrícola no Cerrado, por sua vez, ganhou maior expressão apenas nas últimas décadas, fruto de políticas de Estado efetivas, de pesquisas orientadas à melhor exploração das nossas condições fisiográficas (clima, solo, bioma etc.), de muitos investimentos em infraestrutura, além de outros fatores como o alto custo das terras em outras regiões e a escalada das demandas por produtos agrícolas específicos.

Exemplos de fora e daqui mesmo

Para melhor contextualizar o meu raciocínio, menciono outras entidades políticas, como os Estados Unidos da América e o estado de São Paulo. Embora explorem os seus enormes potenciais agropecuários, essas regiões também alcançaram sucessos em outros segmentos econômicos igualmente relevantes.

Goiás, que já mostra avanços em vários setores, tem condições para melhorar e diversificar ainda mais o seu desempenho econômico, com reflexos muito positivos na qualidade de vida e na realização pessoal dos seus habitantes. Para isso, convém a formulação e a implementação de políticas e estratégias críveis e capazes de verdadeiramente orientar os rumos do nosso desenvolvimento. Indo além, essas políticas e estratégias precisam conversar entre si, ao passo que envolvam diferentes atores da nossa sociedade, especialmente os agentes do poder público, os empresários, os centros de pesquisa, as instituições de ensino em todos os níveis, bem como as entidades representativas dos setores produtivos e de apoio à inovação e ao empreendedorismo.

O mundo não para

O desenvolvimento tem possibilidades diversas e envolve oportunidades em vários campos de atuação. A forma com que cada região ou sociedade lida com isso faz muita diferença. Aliás, subentende-se uma boa dose de esforços “artificiais” nesse contexto. Por conta disso, somos levados a pensar regularmente no como estamos nos comportando e nos riscos de ficarmos complacentes, de não estimularmos ou reforçarmos iniciativas virtuosas e inovadoras, e ainda de sermos atropelados pelos acontecimentos ou conquistas de terceiros. Felizmente, até aqui, e de fato, Goiás não se tornou gigante só pela própria natureza, mas também é fruto de muito trabalho.

Sem desconsiderar o sucesso já alcançado, mas sem deitarmos à sombra, e para mitigar os riscos que mencionei, decisões e esforços qualificados e com foco no nosso desenvolvimento equilibrado e sustentável são sempre necessários e precisam ocorrer com oportunidade. Nesse caso, é bom lembrar que diversas mudanças locais e no mundo já estão em curso, e podemos visualizar outras a curto, médio e longo prazos.

Por isso, enfatizo que os desdobramentos das mudanças não são necessariamente virtuosos ou vêm do nada. Somente para ilustrar o universo de desafios à nossa frente, há enormes avanços e oportunidades nas áreas de inteligência artificial, mobilidade, comunicações, sensoriamento, robótica, biotecnologia, uso compartilhado de bens, comércio eletrônico, automação e por aí vai. Tudo isso tangencia o agronegócio, mas certamente não se restringe a ele. Que tal tomarmos o nosso exemplo exitoso de modo a expandirmos ainda mais o leque das nossas áreas de sucesso? Aliás, muita coisa já ocorreu nesse sentido.

Concluindo

Devemos então considerar tanto as vocações naturais quanto as artificiais de Goiás no contexto do que muitos chamam de economia 4.0. Todas as mudanças no campo econômico, tanto as já experimentadas quanto as visualizadas, afetam e seguirão afetando as relações de trabalho, as formas de produção e consumo, as exigências de capacitação dos empregados, o empreendedorismo e, antes de tudo, as políticas e as estratégias de desenvolvimento nos setores público e privado. Disso vem a pergunta: a nossa sociedade tem se comportado da forma mais adequada e profícua em relação às oportunidades atuais ou esperadas no futuro breve? O que mais nos cabe “artificialmente” fazer ou refinar? Eis as questões que precisamos enfrentar continuamente!

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Este post tem 3 comentários

  1. Vicente

    Meu caro, não sou de Goiás. Estou em Recife e tenho grande envolvimento com o Porto Digital. Isso vem de um bom tempo… Aqui temos alguns sucessos. Vi agora que já temos um faturamento de mais de 4 bi. Isso enche os teus olhos? Saiba que a concorrência é grande! Vocês já têm uma base forte na UFG. Explorem isso! Mas imagino que vocês também têm lacunas… Vc poderia me dizer? Eu apenas imagino. Sem uma abordagem estratégica que aborde essas lacunas, há o risco de que Goiás fique para trás em relação a outras regiões mais preparadas para os desafios da nova economia. Portanto, o avanço nesse campo requer não apenas visão e planejamento, mas também ação concreta e investimentos direcionados para superar as barreiras atuais.

  2. Marcos

    Sou da área. No meu entender, a realidade é que, para Goiás conseguir se posicionar de forma competitiva na nova economia, será necessário um investimento forte em educação e capacitação, especialmente em áreas como ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM). Além disso, a expansão e melhoria da infraestrutura de internet, especialmente nas regiões rurais, é essencial para que as inovações tecnológicas possam ser aplicadas de maneira eficiente em todos os setores.

  3. André Nogueira

    Não duvido que Goiás tenha um grande potencial para se destacar na nova economia. Isso pode ser impulsionado por sua base agrícola e pela crescente adoção de tecnologias. Porém, vejo que a transição para uma economia mais digitalizada e inovadora esbarra em desafios maiores: a infraestrutura tecnológica ainda insuficiente em algumas áreas e a falta de mão de obra qualificada são pontos bem críticos.

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