“O que você quer ser quando crescer”? Acredito que todos enfrentamos essa pergunta na infância, ao menos uma vez. Também acredito que muitos foram capazes de esboçar alguma resposta, ainda que sem muita convicção ou certeza no primeiro momento. O interessante nessa experiência corriqueira é que pergunta similar pode ser feita acerca dos empreendimentos que estejam para ser implementados ou mesmo que já estejam em funcionamento.
Se as perguntas são feitas, em princípio, há respostas e a qualidade das mesmas dependerá das personalidades de cada um – criança ou empreendedor – além do nível de proficiência dos planejamentos realizados. Certamente, isso envolve raciocínios de causa e efeito, temperamento, autoestima, autoconhecimento, motivações, ambições, valores, cultura, além da percepção mais ou menos acurada dos recursos disponíveis e do ambiente em que se vive.
Quando a expectativa amadurece
Não há dúvidas de que o mundo, as instituições e as pessoas se modificam, mas o esperado é que, a certa altura, as aspirações individuais ou institucionais tornem-se mais claras e consistentes. Assim, e exceto para aqueles que deixam a vida os levar, a conquista de certos objetivos e metas passa a ser um desafio estável e duradouro.
Nesse percurso, é provável que não faltem dificuldades e que, possivelmente, ocorrerão ajustes, frustrações, arrependimentos e revezes. Felizmente, a persistência, a aprendizagem, a adaptação e a superação também fazem parte do mesmo pacote. Quanto melhor for a combinação desses ingredientes na vida e nos negócios, mais e melhores gostos experimentaremos.
Os “desejos” nem sempre se realizam
Seja sob a perspectiva pessoal ou das organizações, quantos de nós concretizamos integralmente as expectativas que esboçamos e que, muitas vezes, foram verbalizadas há anos ou décadas? Creio que nem todos e, possivelmente, sequer a maioria. Mas, em geral, qual é o percentual daqueles que podem se sentir orgulhosos ou minimamente satisfeitos ao final de um percurso de realizações? Nesse caso, imagino que a proporção é bem maior e não deixo de pensar na força e no importante papel que têm a racionalização, a maturidade, o conformismo e a resignação. Por outro lado, as maiores chances de sucessos no percurso certamente têm relação com a qualidade dos planos que traçamos. Aqui, destaco as ideias de planejamento como processo e de plano como um dos seus produtos.
O filme mental
Se um empreendedor ou dirigente organizacional é capaz de expressar a condição de futuro da sua entidade, pressupõe-se que ele construiu um filme mental que descreve a trajetória do empreendimento. Esse filme tem muito a ver com a concepção de um plano e duas considerações derivam dessa compreensão: a primeira é que muitos planejadores ou empreendedores ficam apenas no filme ou no plano mental e deixam de fazer os convenientes registros escritos. Ou seja, o “plano” fica restrito à cabeça do empreendedor ou dirigente e, quase sempre, é mal comunicado aos assessores e colaboradores, o que pode gerar muitos transtornos. A segunda consideração é que, muitas vezes, o filme mental tem uma qualidade ruim, em razão de déficits metodológicos e estruturais ou em consequência da contaminação por vieses de personalidade do planejador. Aliás, o SEBRAE tem estudos que bem indicam o quanto essas questões afetam o desempenho dos negócios e, pior, o quanto essas questões estão associadas à extinção precoce dos empreendimentos. Por oportuno, sugiro a leitura complementar do artigo “A expectativa de vida das empresas”.
Concluindo
Felizmente, é possível reduzir os riscos de insucesso de um empreendimento ou organização por deficiências de planejamento estratégico. Tudo começa pela capacitação adequada dos líderes, gestores ou das equipes de assessores. Em sequência, passa pela realização de bons diagnósticos e pela formulação e eventual atualização dos planos estratégicos, de modo a preservar a coerência ante a evolução da realidade e, ainda, fornecer uma boa visualização do que se pretende em maior prazo.
Um bom plano comunica credibilidade, define referências importantes a todos que o executam, evita conflitos funcionais e, ao mesmo tempo, contribui para a eficiência e a sinergia entre os elementos de uma entidade pública ou privada, com ou sem fins lucrativos. Fazer isso não é um bicho de sete cabeças e, por experiência como assessor, empresário e professor, os resultados tendem a nos surpreender positivamente. A propósito, como está o plano estratégico da empresa ou da organização em que você atua? Pense nisso.
Sem dúvida, transformar o filme mental no estado final que desejamos para os nossos objetivos pessoais ou para o nosso negócio é sem dúvida um desafio. No meu caso, romper a inércia gerada por não sabermos por onde e como começar já é um convite para permanecer no filme mental. Outro aspecto gerador de abandono do planejamento estratégico continuado ou a simplificação demasiada após romper a inércia é “não dar conta” de aspectos o qual não dominamos. Por isso, a pergunta sobre o que queremos para o nosso negócio, não raro, requer um apoio especializado e sólido na área de planejamento e gestão, cujo o custo esbarra na capacidade financeira pessoal ou do empreendimento. Mas vejo que existem soluções que equilibram a qualidade com o investimento, sem gerar uma dor emocional.
Trabalhei por um bom tempo e, hoje, eu administro uma lanchonete no interior de São Paulo. O negócio virou ponto tradicional nas redondezas, começou com o meu pai e deu certo até agora. Me preocupo com essa necessidade de sempre ajustar os negócios à realidade. A concorrência com as franquias é forte e volta e meia fico sem dormir por isso… Meu pai está “aposentado” agora e o seu plano estratégico era mental e genial, mas olhando para os colegas de negócios dá pra dizer que a realidade de muitas empresas de pequeno e até de médio porte é marcada por limitações financeiras, falta de conhecimento estratégico e resistência a mudança. Muitos amigos ficaram pelo caminho por causa disso.
Essa de “filme mental” é interessante pra mim. Dá a impressão de coisa artesanal, sem muito método, mas com muito idealismo. Tive três negócios anteriores e que foram mal e por aí. Aprendi na pele isso daí e infelizmente minha família também. Aprendi errando, mas dou graças porque estou bem hoje. Não precisamos sofrer para empreender. Sucesso a todos.